Quando peguei o livro da Malala, pensei “maaaiiiis um livro sobre a Malala” com o peso desse ter sido escrito por ela mesma.
Como fazer uma análise de um livro sobre a Malala escrito pela própria Malala sem ser contaminada por tudo que ela representa? E como analisar mais um livro sobre a história de Malala sem achar que é um abuso do mercado? Esse era o meu dilema. Então comecei.
O livro sem ser um projeto literário ou gráfico ousado tem bastante consistência, pois a delicadeza e a pertinência das ilustrações e do texto simples e direto contam, de forma bastante harmônica, sem fugir da complexidade da temática, a história da Malala.
O livro, ao ser escrito na primeira pessoa, dá força ao discurso, aproxima-se dos leitores e reforça a intensão de ser uma história de criança para criança. O fio condutor da narrativa, que é o desejo de Malala pelo lápis mágico, parece ter sido uma boa estratégia para abordar a sua trajetória e transformação, o que também favorece a comunicação com os leitores.
Um ponto forte importante da história é dar oportunidade aos pequenos leitores de conhecer outra realidade, outra cultura, uma situação de guerra que se expressa tanto no texto, nas reflexões e relatos da Malala, quanto nas ilustrações, no vestuário, nas habitações, nas carteiras escolares. Também é uma importante oportunidade para se aproximar de questões relativas aos direitos humanos. Há pouca literatura abordando essas questões.
A cor de fundo ora colorida ora branca ora preta; o uso de páginas duplas em algumas cenas e o uso, em alguns momentos, de várias pequenas cenas ocupando a mesma página são soluções gráficas que ajudam a contar a história.
A capa e a quarta-capa pela vestimenta da menina, pelas pequenas ilustrações douradas, parecendo arabescos, dão indícios que uma história diferente, de outra cultura, será contada. O uso da letra cursiva no título também é um diferencial e um indicador coerente com a história. O único ponto em relação ao projeto gráfico diz respeito às guardas. Quando abrimos o livro, as guardas só ocupam uma página o que deixa a sensação de que falta um pedaço da guarda.
Trata-se de um livro importante pela temática, pela forma como foi abordada tanto no texto, como na ilustração, sem minimizar a complexidade e a tensão da história; pela atualidade das questões que traz e consequentemente pela aposta implícita no futuro que as crianças representam.

O lápis mágico de Malala
Autora: Malala Yousafzai
Ilustrações: KERASCOËT
Tradução: Lígia Azevedo
Editora: Companhia das Letrinhas
1ª edição 2018