Sólin Sekkur é um jovem ilustrador mexicano. Seu trabalho pode ser visto em projetos editoriais, em especial livros de literatura infantil e juvenil. Ganhou destaque nos últimos anos com ilustrações selecionadas para os catálogos Iberoamerica Ilustra 2018 e White Ravens 2020 e para a Mostra de Ilustradores de Bolonha 2021.
Em 2022, volta a ser destaque na famosa feira de livros italiana, agora como o ilustrador da identidade visual. São dele os personagens que nos convidam para uma grande festa e o retorno aos encontros presenciais do evento que por dois anos aconteceu de forma remota devido à pandemia. O desafio era expressar visualmente o desejo pela reabertura, pelo reencontro, sem esquecer que ainda vivemos um momento de fragilidade. Sekkur pareceu ser o nome certo para a empreitada, com seu trabalho marcado por retratos vibrantes, um surrealismo contido que às vezes se apresenta de forma intensa e personagens cuja simplicidade de forma revela profundos sentimentos e emoções.
Nascido na Cidade do México, em 1990, é graduado em Design e Comunicação Visual, com especialização em ilustração. Escolheu Sólin Sekkur como sua identidade profissional (seu nome é, na verdade, Diego Fernandez López), termo que significa “o sol se põe” em islandês. “Gostei muito do significado poético que encontrei nessas palavras, pois representam coisas que eu gosto de abordar no meu trabalho”, explica.
A Revista Emília conversou com ele sobre sua carreira, processo criativo, inspirações e leituras. Acompanhe a seguir:
Priscilla Brossi – Para começar, como se tornou ilustrador? Conte-nos sobre essa trajetória.
Sólin Sekkur – Desde criança, uma das minhas atividades favoritas era desenhar. Desenhava o tempo todo, lembro de ter preenchido muitos cadernos, no entanto, nunca pensei em fazê-lo profissionalmente. Até que entrei no ensino médio e chegou o momento de decidir sobre uma carreira. Embora fosse algo muito orgânico e a resposta óbvia, optei por estudar Psicologia. Mas pouco antes de começar o curso, percebi que não era para mim. Graças a outros amigos que também gostavam de arte, descobri a ilustração como profissão e fui capaz de mudar de ideia a tempo. Estudei Design e Comunicação Visual e me especializei em ilustração. Depois, conheci o mundo da ilustração de livros de literatura infantil e juvenil, que muito me atraiu e me fez sentir à vontade. Desde então tenho me dedicado à ilustração de livros, de outros projetos editoriais e também à ilustração como expressão artística.
PB – Que assuntos te inspiram? Como é seu processo criativo?
SS – A inspiração vem para mim de muitos lados, tanto de coisas externas quanto internas. Me inspiro muito na cidade, na música, na poesia, nos sonhos. Às vezes é algo muito simples como uma imagem mental ou uma memória. Percebi que sou muito atraído por opostos, confrontando diferentes perspectivas até encontrar algo que pareça diferente. Dizem que meu trabalho é um pouco sombrio e, embora não seja completamente intencional, agora entendo que é uma parte importante dele. Meu processo criativo sempre depende dos projetos: às vezes é muito estruturado, com a análise cuidadosa dos textos e escolhas estratégicas visuais para representá-los, e outras vezes é muito livre, vem da intuição e da emoção.
PB – Quais técnicas e linguagens estão mais presentes em suas ilustrações?
SS – Pode-se dizer que tenho uma abordagem mais experimental das técnicas porque nunca está muito claro qual será o resultado, mas tenho em mente algo em particular sobre o qual quero falar, seja abstrato, emocional ou mais concreto, e começo a explorar diferentes possibilidades até encontrar a que mais se aproxima, por isso costumo trabalhar com técnicas digitais ou mistas. Pode-se dizer também que tenho uma tendência à poesia visual, ou pelo menos é assim que sinto, gosto que minhas imagens tenham diferentes dimensões e leituras, que vão do óbvio ao oculto, e sempre deixem um espaço de ambiguidade para que os outros possam encontrar significados.
PB – Você acha que a cultura mexicana se manifesta de alguma forma em seu trabalho?
SS – Acho difícil que a cultura na qual crescemos não se manifeste em qualquer trabalho que façamos, é uma relação inegável. Eu diria que meu país é cheio de contrastes e muita resiliência, e posso ver isso no meu trabalho. Também fui muito influenciado pela arte mexicana moderna, o dia dos mortos, a Cidade do México, a arte pré-hispânica, entre muitos outros aspectos e elementos. É como uma raiz a partir da qual se caminha em direção a uma perspectiva mais pessoal.
PB – Quais ilustradoras ou ilustradores você gosta?
SS – Gosto de tantos artistas que seria muito injusto citar apenas alguns.
PB – Como vê o panorama da ilustração latino-americana? Na sua opinião, existe alguma particularidade que une o trabalho realizado por artistas da região?
SS – Vejo um panorama muito diverso, o que me parece muito bom, surgem constantemente novos artistas e propostas. Não sei se posso dizer que há algo concreto, mas acredito que as realidades complexas (e muitas vezes duras) vividas na América Latina se infiltram em nosso trabalho, às vezes de forma evidente, às vezes não.
PB – O que tem inspirado você ultimamente?
SS – Há algum tempo venho explorando o personagem como uma espécie de receptáculo narrativo onde se podem concentrar muitas coisas de uma só vez, que tem a capacidade de se conectar com quem o vê e transmitir coisas diferentes. É algo que definitivamente deu um novo rumo ao meu trabalho e me mantém constantemente explorando suas possibilidades.
PB – Poderia falar mais sobre esse seu processo de construção de personagem?
SS – Redescobri mais recentemente o quanto gostava de design de personagens (particularmente design de personagens contemporâneos) enquanto ainda era um estudante. A partir dessa redescoberta, passou a ser um importante recurso narrativo em minha proposta como ilustrador. Acho que o personagem não só tem um função fundamental na narrativa da imagem, tem também a capacidade de conter diferentes narrativas que podem ser transmitidas não só pela forma como vê, mas como age ou o que expressa. Além disso, por ser uma “entidade” tem potencial para ser um espelho onde podemos nos ver refletidos e encontrar outras camadas narrativas que muito acrescentam à ilustração, sobretudo no aspecto emocional. Gosto de uma certa ambiguidade, que nem tudo seja dito ou fique evidente no personagem (o que é, o que sente, de onde pode vir, o que faz), que haja espaços vazios ou indefinidos, para que assim o espectador possa se envolver e completar peças do quebra-cabeça com seu próprio mundo. Tudo isso me inspirou muito a continuar usando o personagem como elemento principal no meu trabalho.
PB – Que tipo de leitor é Sólin Sekkur? O que está lendo agora?
SS – Eu diria que sou um leitor relativamente comum, mas tenho uma grande inclinação para a poesia e o romance. Também leio muito na internet, um pouco de tudo. Acabei de começar Cuentos de Terramar, de Ursula K. Le Guin.
PB – Nesses últimos anos desafiadores, com a pandemia, o que te ajudou a seguir em frente?
SS – Duas coisas fundamentais: minha família e meu trabalho. O cuidado que tivemos uns com os outros me manteve seguro; o trabalho me ajudou a manter o foco e também a me expressar quando precisei. Felizmente, tive projetos de ilustração muito especiais que me deram força e esperança para seguir em frente.