Para Délcio
Persigo, com muita humildade, o que essa palavra tem
de mais sagrado: húmus, pisar sobre o húmus da terra,
um território que é anterior àquilo que se entende como
literatura. Busco o esoterismo da literatura, da criação.
É um território em que a palavra “sensível” é possível,
em que a palavra “visível” é possível, em que a palavra
“sano” é possível. Elas existiam antes que inventassem,
que cismassem em colocar diante delas o prefixo “in”.
O que era sensível, assim, ficou “insensível”; o que era
visível, “invisível” e, pior ainda, o que era sano se tornou
“insano”.
Mas, creio eu, há que se colocar o prefixo “in” na frente
do “cômodo”, vocês têm que sair daqui incomodados.
Pois o que estamos praticando aqui, no momento em
que o parlar, o parlamento, está tão desacreditado, é esse
exercício da palavra, do diálogo, do parlamento, que é
uma coisa única.
Délcio Teobaldo (1958-2021)
Esta edição é dedicada ao Délcio, amigo, irmão e parceiro, que neste ano, tão sofrido e de tantas e tantas perdas, nos deixou para virar estrela. Que sua lucidez, seu inconformismo, sua ginga, sua sabedoria e sua sensibilidade nos acompanhe — sempre.
Nesta edição, entrevista com Paulo Nazareh e com Louise M. Rosenblat. Textos de Marcela Carranza, Anita Prades, Maria Carolina Fenati, Emilia Gallego Alfonso, Adolfo Córdova e Sara Bertrand. Poema inédito de Tayla Fernandes. Ilustrações de Bárbara Quintino.