PNBE na escola

, BeatrizTelles@revistaemilia.com.br Telles Beatriz SimoneAzevedo@revistaemilia.com.br Azevedo Simone

A Comunidade Educativa CEDAC quis aproveitar esse precioso espaço para compartilhar com os leitores da Revista Emília uma experiência de formação que consideramos repleta de aprendizados em dois aspectos: o uso do acervo de livros do PNBE (Programa Nacional Biblioteca da Escola) e o trabalho colaborativo entre diretor e coordenador na efetivação do direito à leitura.

A história que vamos contar aqui tem como cenário a cidade mineira de João Monlevade, de quem recebemos em 2015 um pedido de assessoria para gestores e coordenadores pedagógicos.

Feitos os trâmites iniciais para a formalização da parceria, fizemos o que costumamos chamar de viagem de pactuação, um reconhecimento do território no qual visitamos escolas, conversamos com gestores e educadores e temos um primeiro contato presencial com as demandas e a realidade local para a partir daí validarmos/ajustarmos a proposta de formação inicialmente desenhada.

A partir dessa viagem, definimos em conjunto com a Secretaria dois principais objetivos da formação a ser realizada em ciclos bimestrais de encontros com coordenadores, diretores e equipe de Secretaria: 1) Qualificar os espaços de formação envolvendo a equipe pedagógica da Secretaria Municipal de Educação e as equipes gestoras das escolas (diretores, vice-diretores, auxiliares de direção e coordenadores pedagógicos); 2) Fortalecer os princípios educacionais que orientam as decisões relativas ao funcionamento da rede, que têm como objetivo a melhoria da aprendizagem dos alunos.

Além disso, discutindo com a equipe local o funcionamento da rede, avaliamos que era necessário fortalecer o papel dos coordenadores pedagógicos, valorizar o trabalho dos diretores e investir na articulação do trabalho desses dois atores – diretor e coordenador – ou da chamada dupla gestora.

Como costumamos fazer a fim de atender a especificidade do trabalho de cada ator, organizamos as reuniões por público, ou seja, com momentos exclusivos para equipe de secretaria, diretores, coordenadores pedagógicos, mas também alguns momentos compartilhados, como as reuniões gerais, justamente para promover o diálogo e a articulação. Mas nesse caso, como havia a intenção de fortalecer em especial a dupla gestora, previmos uma reunião conjunta de diretores e coordenadores.

Ao planejarmos esta reunião, avaliamos que seria estratégico propor um conteúdo comum a esses dois atores. Optamos por utilizar o Caderno de orientação para o uso pedagógico e formativo dos acervos do Programa Nacional Biblioteca da Escola 1Fruto de uma parceria com a Fundação SM, o Caderno de orientação para o uso pedagógico e formativo dos acervos do Programa Nacional Biblioteca da EscolaPNBE do Professor foi elaborado pela Equipe da Comunidade Educativa CEDAC, com a intenção de que os educadores das escolas, em especial os coordenadores pedagógicos e diretores em suas ações de formação com os professores, possam fazer o uso autônomo do material – um uso pedagógico e formativo – a fim de conhecerem, organizarem e utilizarem os livros do PNBE do professor. Ele contém orientações para organização, conhecimento e divulgação dos acervos; propostas para o uso pedagógico e formativo dos acervos (com sugestões de 3 sequências de trabalho) e a lista dos acervos do PNBE do professor de 2013. O caderno está disponível aqui.e a partir dele refletir com esses dois atores as condições que precisariam assegurar, tanto isoladamente como em parceria, para favorecer o uso qualificado do acervo na escola. Dessa forma, inauguramos a formação dessa dupla com um objetivo compartilhado e claro: orientar o uso pedagógico e formativo do acervo do PNBE do professor.

A realização de ações propostas no Caderno de Orientação tem relação direta com a qualificação de políticas públicas implementadas pelas escolas, em consonância com as a proposta de rede, pois tem como meta a qualificação do espaço de formação por meio do uso pedagógico e formativo do acervo. Em outras palavras, o Caderno orienta e sugere ações que podem colocar cada escola como local de aprendizagem e aprimoramento profissional permanente para o professor.

A partir desse material, coordenadores e diretores puderam conhecer o acervo, refletir sobre as condições necessárias para que ele fosse bem aproveitado na escola e organizar as suas ações para:

  • acompanhar a implementação das orientações em contextos de formação continuada de professores;
  • avaliar os potenciais e limitações de cada proposta visando a construção permanente de conhecimentos relacionados ao tema;
  • documentar reflexões para posterior divulgação sobre a utilização das orientações.

Também tomamos algumas decisões para favorecer o funcionamento sistêmico da formação que já vínhamos tomando em outros projetos, a saber: o convite à equipe de Secretaria para participar de todas as atividades da formação; e a realização de trabalhos de campo como uma estratégia formativa que potencializa as reflexões advindas da formação, mas que precisa ser incorporada pela equipe da SME como estratégia de acompanhamento das escolas da rede.

Dessa forma, desde o início do projeto, o desafio de desenvolver um projeto de formação que favorecesse a qualificação dos espaços de formação foi atrelado à oportunidade de utilizar um material muito potente no contexto de formação. Mas o que se pretende explicitar com este texto é de que forma a estratégia formativa de unir as duplas gestoras das escolas (coordenadores pedagógicos e diretores) em uma reunião conjunta, tendo o Caderno de Orientação como conteúdo, favoreceu a qualificação do espaço de formação no município a partir do acervo de livros do PNBE.

Desde o início, quando conhecemos a meta projetada pela equipe da secretaria – a qualificação dos espaços de formação – pensamos em concentrar o trabalho relacionado ao acervo do PNBE/professores, tratado no Caderno de Orientação na formação realizada com a dupla gestora, já que o uso do acervo tem relação com as ações dos dois atores: coordenadores pedagógicos, que precisam potencializar o uso dos livros nos espaços de formação; e diretores, que precisam assegurar o acesso e os espaços de formação de sua equipe. Partindo dessa lógica, todas as ações planejadas a partir das orientações/sugestões contidas no Caderno foram realizadas em parceria pelos dois atores. Nesse sentido, o uso do Caderno de Orientação em contexto de formação contribuiu para o fortalecimento dessa parceria, pois coordenadores pedagógicos e diretores planejaram e realizaram as ações em iguais condições, numa relação profissional simétrica, já que a responsabilidade era assumida igualmente pelos dois.

Podemos pensar que qualquer trabalho proposto em contexto de formação com duplas gestoras tende a potencializar a parceria entre eles. Entretanto, o ponto observado é o fato de que as ações propostas no Caderno de Orientação convergem para a qualificação da formação do professor que, sabemos, é o fator de maior impacto na melhoria da aprendizagem dos alunos. E essa é a função da escola: trabalhar de forma articulada – diretores assegurando condições e desenvolvendo ações conjuntas com coordenadores pedagógicos e equipe para que as aprendizagens dos alunos sejam reais e potentes.

Ações realizadas nos ciclos de formação

Nas reuniões apenas com os diretores, além de conhecerem a estrutura e objetivos da formação e analisarem, refletirem e complementarem os princípios educacionais da rede, discutiram os seguintes conteúdos: gestão do uso do espaço (como espaço de aprendizagem dos professores); e gestão de pessoas, com foco no fortalecimento de equipe colaborativa para favorecer a aprendizagem dos alunos; e a relação dessas gestões com os princípios da rede. Para a reunião que participariam com os coordenadores pedagógicos foi solicitado que levassem fotos dos ambientes de trabalho, lanche e estudo dos professores, incluindo fotos dos locais onde estavam organizados os livros da biblioteca do professor.

Já com os coordenadores pedagógicos, além de conheceram a estrutura e objetivos da formação e analisarem, refletiram e complementarem os princípios educacionais da rede, discutiram sobre a concepção de formação e o papel do CP como formador de professores – a partir das ações que declararam realizar – objetivando a aprendizagem dos alunos, e a relação com os princípios da rede. Elaboraram também uma pauta de uma reunião a ser realizada com os professores para compartilharem e complementarem os princípios da rede e levantarem as necessidades formativas que os próprios professores indicavam que deveriam ser tratadas na formação. Foram orientados a compartilhar com o diretor da escola onde atuam a pauta elaborada e a se prepararem para a elaboração de nova pauta que seria produzida em dupla na reunião compartilhada.

Na reunião com as duplas gestoras, em grupos por escolas, puderam analisar os locais que os professores utilizam para estudar, planejar e trabalhar em grupos – utilizando as fotos levadas pelos diretores, como suporte. Discutiram os aspectos que favorecem ou dificultam o acesso aos livros do PNBE e realizaram a leitura compartilhada do primeiro capítulo do Caderno de Orientações. Depois de relacionarem essas ações com os princípios da rede, elaboraram um plano de ação para reorganização do espaço para que os professores tivessem acesso aos livros e para a divulgação do acervo.

Nos dois ciclos seguintes, nas reuniões das duplas gestoras, além do compartilhamento dos resultados das mudanças realizadas nas escolas, outras reflexões foram propostas a partir do Caderno de Orientação, inspirando e dando sequência ao planejamento de ações que aprimoraram o espaço de formação dos profissionais; ações que levaram à reorganização do acervo de forma a favorecer o acesso aos livros pelos professores; ações de divulgação e ações que levaram as duplas gestoras e professores a conhecerem mais profundamente o acervo ou parte dele.

Todas as ações realizadas nas escolas foram acompanhadas pela equipe da Secretaria Municipal de Educação com o apoio da formadora.

Ao final do primeiro ano de formação, as escolas apresentavam os seguintes resultados:

  • 100% reorganizaram o acervo de forma a favorecer o acesso aos professores;
  • 100% das escolas aprimoraram os espaços de trabalho coletivo dos professores;
  • 100% das equipes gestoras realizaram reuniões com professores para que estes analisassem e conhecessem os livros que compõem o acervo.

Os resultados indicam que alguns dos obstáculos importantes que existiam para o uso do acervo foram superados por meio de propostas concretas feitas na formação a partir do Caderno de Orientação, mas sabemos, também, que o uso efetivo dos livros depende de vários fatores, dentre eles a necessidade de as equipes gestoras potencializarem o uso dos livros nos espaços de formação. Além disso, o uso depende, acreditamos, de que também haja busca pessoal do professor pelo aprimoramento profissional. Uma busca relacionada ao interesse de desenvolver práticas pedagógicas mais eficientes, um dos principais desafios da profissão de professor. Acreditamos que o interesse pode ser construído e/ou ampliado em espaços de formação que valorizem a aprendizagem colaborativa. E é esse o grande desafio que temos nessa formação: apoiar a formação das duplas gestoras para que qualifiquem, cada vez mais, os espaços de formação com seus professores como espaços de aprimoramento profissional a partir da aprendizagem colaborativa fazendo uso, dentre outras estratégias, de leituras profissionais que podem ser apoiadas pelo acervo do PNBE do Professor.

Em relação ao fortalecimento da parceria, as duplas gestoras mencionaram várias aprendizagens entre as quais podemos destacar:

  • Reconhecer a importância do acervo do PNBE;
  • Analisar juntos os livros, conhecendo-os;
  • Planejar juntos e realizar ações juntos ou separados (dependendo da ação, objetivo e foco);
  • Reconhecer a importância de organizar o espaço de trabalho dos professores como espaço de aprendizagem;
  • Construir um mesmo olhar para as ações;
  • Dividir tarefas para aprimorar o desenvolvimento das ações;
  • Fortalecer o papel de formador de professor;
  • Reconhecer que a parceria fortalece a realização das ações;
  • Construir um olhar comum voltado para a formação dos professores.

A oportunidade de utilizar o Caderno de Orientação como conteúdo e uma das estratégias de formação nos permite concluir que, cada ator pode ficar fortalecido no seu papel mesmo atuando em conjunto, em prol de um propósito comum, bem definido e compartilhado. Planejar ações de formação, estabelecer metas de curto e médio prazo, organizar materiais, documentar o trabalho por meio de registros fotográficos e reflexivos, estabelecer relações de parceria com professores e funcionários da escola foram algumas das aprendizagens proporcionadas nesse percurso formativo.

A ideia é que esses gestores possam dar continuidade ao trabalho com o acervo do PNBE nas escolas de forma planejada e organizada, colocando em uso essas ações. Além disso, espera-se que possam generalizar as aprendizagens de parceria para as outras tantas ações de que a vida escolar necessita.

Importante registrar que todo o processo se desenvolveu com o total apoio da equipe da Secretaria Municipal de Educação. E, tanto no que se refere às decisões que foram sendo tomadas, como ao acompanhamento das escolas na realização das ações.


Imagem: Ilustração de Jimmy Liao.


Nota

  • 1
    Fruto de uma parceria com a Fundação SM, o Caderno de orientação para o uso pedagógico e formativo dos acervos do Programa Nacional Biblioteca da EscolaPNBE do Professor foi elaborado pela Equipe da Comunidade Educativa CEDAC, com a intenção de que os educadores das escolas, em especial os coordenadores pedagógicos e diretores em suas ações de formação com os professores, possam fazer o uso autônomo do material – um uso pedagógico e formativo – a fim de conhecerem, organizarem e utilizarem os livros do PNBE do professor. Ele contém orientações para organização, conhecimento e divulgação dos acervos; propostas para o uso pedagógico e formativo dos acervos (com sugestões de 3 sequências de trabalho) e a lista dos acervos do PNBE do professor de 2013. O caderno está disponível aqui.

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Autores

  • Beatriz Telles

    Pedagoga, pós-graduada em Psicopedagogia da Primeira Infância e em Alfabetização e mestre em formação de formadores, pela PUC-SP. Foi professora e coordenadora de Educação Infantil e coordenadora de Ensino Fundamental. Atuou também como psicopedagoga clínica, trabalhando com crianças com dificuldades de aprendizagem. Na Comunidade Educativa CEDAC atua como formadora de educadores há 8 anos, nas áreas de Educação Infantil, Língua e Gestão.

    BeatrizTelles@revistaemilia.com.br Telles Beatriz
  • Simone Azevedo

    Pedagoga. Mestranda e especialista em Educação pela PUC-SP. Foi professora nos segmentos de Educação Infantil e Ensino Fundamental e coordenadora pedagógica do Ensino Fundamental. Atuou como formadora do Programa de Formação de Professores Alfabetizadores (PROFA) em SP e do Projeto Dica em São Caetano do Sul, nas áreas de Língua Portuguesa e Matemática, respectivamente. Na Comunidade Educativa CEDAC desde 2008, foi formadora em diversos municípios. Atualmente, integra o núcleo de coordenação pedagógica da instituição e realiza a formação em leitura e literatura para o Ensino Fundamental no Projeto Mosaic Educa, em Paranaguá (PR).

    SimoneAzevedo@revistaemilia.com.br Azevedo Simone

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