Avaliação e seleção de livros

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Gostaria de iniciar com um olhar para o passado. Há vinte cinco, trinta anos, a promoção da leitura na Colômbia era algo que ainda não tinha um nome definido; usava-se a intuição para aproximar as crianças e jovens de um belíssimo material – quase todo importado – que revelava um mundo desconhecido e sugestivo.

Oferecíamos os livros com generosidade e entusiasmo. A leitura era uma festa e acreditávamos – ingenuamente – que todos estavam convidados, mas que eram poucos os eleitos. Concebia-se a promoção da leitura como um conjunto de atividades dirigidas às crianças e jovens com a finalidade de promover as coleções existentes nas bibliotecas. Naquelas que tinham poucos livros, a atividade acabava rapidamente e ficava na memória dos bibliotecários e das crianças, como um momento agradável que compartilharam um dia.

O tempo passou e a promoção da leitura se transformou. De uma ação empírica, exploratória e intuitiva, passou a ser estratégica e política. Foi ganhando terreno, conquistando territórios inexplorados, confrontando-se com realidades cada vez mais duras, mais injustas e violentas, ampliando sua visão para incluir novos textos, diversas maneiras de ler e diferentes grupos leitores.

Essa mudança foi ao encontro das transformações do significado da leitura. Ler foi considerado durante séculos um privilégio. Seu ensino se baseava no desenvolvimento de um conjunto de habilidades, que se configuravam como atos mecânicos. Posteriormente, com o desenvolvimento da psicologia, deu-se ênfase aos processos cognitivos e individuais, passando por um intercâmbio de sentidos, até chegar a uma concepção de leitura e de escrita como práticas sociais e culturais, que são, atualmente, um direito do cidadão.

As pesquisas mais recentes consideram a promoção da leitura como um trabalho de intervenção sociocultural, com um compromisso político que busca estimular a reflexão, a construção de novos sentidos e desenvolver uma visão crítica frente à realidade, assim como gerar uma transformação tanto pessoal como social1 Cito a definição tomada das Considerações Finais da pesquisa: Aplicación de La encuesta internacional de La lectura en Colombia, em que se concebe a promoção da leitura como um “trabalho de intervenção sociocultural que buscar estimular a reflexão, revalorização, transformação e construção de novos sentidos, ideários e práticas leitoras, para, assim, gerar mudanças nas pessoas, no que toca aos contextos e suas interações”.

Outra visão da promoção da leitura que vai nesse mesmo sentido pode ser vista nos estudos do grupo A cor da letra, quando diz: “A ação cultural cria condições e oportunidades para que as pessoas desenvolvam sua capacidade de observar, refletir, duvidar, questionar e falar livremente a partir de seu próprio cotidiano. É um processo que provoca transformações, levando as pessoas a alterar a forma como se veem no mundo a seu redor, permitindo não se limitarem às soluções já elaboradas e aos comportamentos convencionais, e que comecem a perceber para além das circunstâncias imediatas”.

.Conceber a promoção da leitura como uma intervenção sociocultural, necessariamente nos leva a rever a maneira como selecionamos o material de leitura com que trabalhamos. Nos leva, ainda, a diferenciar a promoção da animação.

A promoção se considera um campo mais amplo que envolve estratégias e ações de tipo político, econômico, administrativo, enquanto a animação se relaciona diretamente com os materiais, Animar, dar ânimo, dar alma, isto é, dar vida. Quem anima traz um sopro de vida aos livros, mas também anima o leitor a estabelecer uma relação mais pessoal com os materiais de leitura. A animação requer um mediador e existe uma arte neste ofício, muito relacionada com as artes interpretativas. O animador dá pistas, oferece chaves para uma melhor interpretação dos textos. O animador orienta a exploração destes. Sua intervenção é fundamental para que os leitores encontrem caminhos pessoais para a apropriação dos textos. E nesse caminho, o mediador também se transforma.

Isso inclui um dos principais critérios da seleção que é o da qualidade. A qualidade, nesse caso, é um conceito transversal, e, mais que um conceito, um imperativo ético. Qualidade estética, qualidade literária, qualidade na precisão e veracidade da informação, qualidade editorial.

E, aqui, há um aspecto a explorar. É comum encontrar seleções com o critério de acomodar o nível dos textos com o suposto nível dos leitores. Livros – entre aspas – chamados fáceis para leitores incipientes. E isso não deixa de ser uma armadilha, porque, precisamente, a tarefa do mediador é – por meio de sua palavra, de seu conhecimento, de sua capacidade aguçada de leitor – brindar com orientações, chaves de leitura, truques para descobrir significados ocultos, apenas sugeridos. Mas é sabido que não aprendemos a escalar entrando em ladeiras, não aprendemos a tocar piano ensaiando em um órgão. Há esforços exigidos pelos bons livros, promessas de sentido que requerem um guia para ensinar a interrogar os textos, um guia que acompanhe, que questione, que dialogue com os outros a partir de uma história, de um conto, de um documento, de uma notícia, de um poema.

Os textos escritos são um universo infinito, múltiplo e diverso e é fácil se perder neles como em uma selva escura. É esse guia animador que leva consigo a bússola e ajuda a discernir a má árvore da boa árvore, a boa da má semente.

Jorge Luís Borges tem um poema que ilustra bem isto e que me leva a imaginar o animador e o promotor como um explorador na selva da linguagem, pondo a prova sua intuição, seu conhecimento, suas certezas, mas também a incerteza frente ao outro. O poema se chama precisamente A Bússola e diz:

Todas las cosas son palabras del
idioma en que Alguien o Algo, noche y día,
escribe esa infinita algarabía
que es la historia del mundo. En su tropel

Pasan Cartago y Roma, yo, tu, él,
mi vida que no entiendo, esta agonía
de ser enigma, azar, criptografía
y toda la discordia de Babel.

Detrás del nombre hay lo que no se nombra:
hoy he sentido gravitar su sombra
en esta aguja azul, lúcida y leve.

Que hacia el confín de un mar tiende su empeño,
con algo de reloj visto en un sueño
y algo de ave dormida que se mueve.

O animador também empresta sua voz, – quando se trata de leituras em voz alta ou ao vivo. É como o intérprete de uma partitura, neste caso, a partitura é feita de letras e de palavras. O animador traz a sua voz para os livros e os enche de sentido. Surge primeiro a cadência, o ritmo, a sonoridade das palavras e essa magia é o que permite que outros – muitos – construam um sentido a partir do que escutam ou leem. O mediador/intérprete permite, ainda, que os iniciantes na leitura – não importa a sua idade – eduquem seu ouvido para escutar melhor o ruído que produz o tecido da língua escrita. Detenho-me um pouco mais nessa ideia porque creio que passamos rapidamente por um aspecto fundamental da formação de leitores: o rumor da linguagem. Pelo ouvido iniciamos nossa familiarização com a poesia de tradição oral, com as cantigas de ninar. Pelo ouvido fazemos nossas primeiras leituras literárias. Pelo ouvido nos aproximamos da poesia. Essa educação do ouvido é fundamental para formar leitores literários. Aqui há outro território por explorar e outro critério para selecionar.

Avaliar e selecionar: duas ações diferentes

Avaliar não é o mesmo que selecionar. Avaliamos para em seguida selecionar. É comum encontrar comitês ou grupos de avaliação de livros nas instituições que trabalham com promoção da leitura. Essa tarefa se dá pela necessidade de orientar os interesses, devido ao fato do mercado oferecer uma grande variedade de materiais e – sejamos honestos – nem tudo ser de boa qualidade. Avaliar material de leitura é, por si, uma atividade de promoção, na medida em que se contribui para melhorar a qualidade do material que se oferece e se obtém como resultado as recomendações. Em geral, os comitês de avaliação produzem listas de livros recomendados, guias com resenhas, catálogos.

Por outro lado, a seleção implica uma visão mais aguçada, mais ajustada aos propósitos dos grupos. Frente a uma coleção que já foi avaliada devemos selecionar? Para quê? Vejamos:

Selecionar para adotar

Quando vamos selecionar livros para uma ação de promoção de leitura, como pode ser a compra para uma biblioteca, a seleção de livros que farão parte de mochilas ou sacolas para um serviço itinerante de leitura, o que primeiro devemos nos perguntar é: quem é essa população que vamos encontrar?

Precisamos caracterizá-la, conhecer sua condição social, seu nível educacional e seu perfil cultural. E não é um caso de discriminação. Ao contrário: uma análise desse tipo permitirá fazer a seleção dos materiais com maior precisão. Mas isso não basta. É necessário fazer o que os especialistas chamam de estudo de necessidade de informação, e, será melhor ainda, se fizermos isso de maneira participativa, com a população expressando o quer ler, de que livros precisa, se quer jornais para se manter informada, se quer assinaturas de revistas, se necessita de livros técnicos que ensinem a fazer algo.

Da mesma maneira, quando vamos selecionar material para um trabalho itinerante, devemos ter em mente quem são os possíveis usuários dessa coleção e as possíveis atividades que se desenham nesse processo. Arrumar uma sacola para um projeto com agricultores que cultivam cana não é o mesmo que arrumar uma bolsa que vai para uma comunidade cujos leitores são crianças entre seis meses e cinco anos de idade.

Faz algumas décadas, esta relação entre leitores e livros não se apresentava de maneira tão clara. Ainda que se tenham feito muitos investimentos em livros de qualidade, eles não chegaram aos destinatários, seja por falta de um mediador que facilitasse esse acesso, seja por outros interesses, que resultavam em diferentes níveis leitores das populações.

Atualmente, algo que parece tão óbvio, ainda não está incorporado em muitos programas de promoção de leitura. Muitas vezes, são incluídos títulos a partir de um exercício de avaliação, mas não de seleção. Outras, infelizmente, seguem as tendências do mercado.

Sem dúvida, ser justo nessa relação não é fácil. Há uma complexidade no fato de se ter que selecionar material de leitura para outros que não nós, sobretudo quando esses outros são considerados não leitores, leitores iniciantes. Como conciliar nossos critérios com as necessidades que ainda não estão formadas como necessidades, que são apenas desejos vagos – o que eu gostaria de ler sobre isto ou aquilo – ou, como ocorre na maioria das vezes, simples conjecturas feitas a partir de nossos gostos e interesses? Nesse sentido, fazem falta mais estudos de recepção que orientem a seleção, que desvelem os sentidos implícitos dos textos, e que deem pistas sobre as diferentes maneiras que as pessoas tem de se apropriar do que leem.

As pesquisas na área de sociologia questionam a concepção da leitura como consumo cultural, para se perguntar pelos diferentes modos de ler, pelo que fazem as pessoas com o que leem, pelos usos, imaginários e valorações. Essa visão afeta a seleção na medida em que se faz necessário não só explorar os textos por eles mesmos, como também as relações que estes podem estabelecer com os leitores, incluindo o mediador, considerado, por si mesmo, leitor.

Selecionar para animar

Já está claro que adotar não basta. E isso abriu um amplo horizonte à animação da leitura e ao trabalho do mediador. O cenário está montado e é propício à mediação: uma coleção de livros ou uma seleção de textos e um grupo de leitores (uns iniciantes, outros experientes, e outros ainda, interessados em temas diversos). Entre esses dois – um animador/mediador – que vai exercer uma ação para aproximar as duas partes: os textos dos leitores. A ação do mediador determina em grande parte a seleção dos textos para animar. Isso quer dizer que um critério de seleção importante passa pela maneira de abordar os textos. Esta não determina necessariamente o mediador. Pode ser uma ação planejada com o grupo ou sugerida por ele. Por exemplo: um clube de leitores quer se aproximar da obra completa de um determinado autor. O que faria, nesse caso, um bom animador? Uma possibilidade é elaborar uma bibliografia completa da obra do autor, acompanhada de cópias de artigos, resenhas críticas, estudos. Apresentar ao grupo esse material e explorar com eles o conteúdo dos diferentes títulos para estabelecer por onde começará a aventura. Uma vez iniciada a viagem, acompanhada de uma leitura em voz alta, com comentários de leitores aguçados, informações que ampliam e contextualizem. Nesse caso, o animador é um guia expedicionário ou um experiente capitão de barco.

Outro exemplo: um grupo de jovens quer participar da feira de ciências organizada por uma sociedade científica. Quais ações cabem ao promotor ou animador nesse caso? Explorar com o grupo quais experimentos querem realizar; buscar material bibliográfico que permita ao grupo conhecer sobre o fenômeno que se está pesquisando. Este material pode conter desde livros informativos até livros técnicos.

Uma biblioteca está apoiando um grupo de mulheres que se organizaram para montar uma cooperativa de artes e ofício. Ali, a seleção será feita tendo em vista materiais que sejam úteis para que as mulheres ampliem seus conhecimentos sobre o trabalho que estão aprendendo. Pode-se, também, completar a seleção com livros que orientem o trabalho cooperativo, com textos que informem sobre os deveres e direitos de uma organização solidária, como é o caso de uma cooperativa – e por que não – com relatos de pessoas, histórias de vida, biografias, testemunhos daqueles que tentaram o mesmo e que mostram resultados, dificuldades e sucessos de uma empresa desse tipo.

Aonde quero chegar com todos esses exemplos? Quero chegar à necessidade de ampliar o conceito de animação e posicioná-lo em contextos reais, de tal maneira que se produza um conhecimento profundo dos textos e também dos leitores. É importante estabelecer relações cuidadosas e claras com os grupos com que trabalhamos. Relações de respeito pelo outro, que tem sua própria voz, sua própria palavra, que entra em diálogo com os outros, com o mediador e com o sentido que oferecem os textos. Na medida em que aprofundamos o conhecimento do outro, teremos mais ferramentas para contribuir com esse leitor, de modo que ele desenvolva seus próprios critérios de seleção.

Animação literária ou a dimensão estética do leitor

A animação literária não é alheia a este sentido de transformação social e cultural. Pelo contrário: os textos literários – por sua dimensão literária e estética – buscam provocar transformações profundas nos leitores.

A literatura é – antes de tudo – arte e, como tal, isso deve ser considerado na hora de selecionar livros para a promoção e animação literária.

Talvez seja esse o aspecto em que mais tropeçamos quando se trata de conceitos e tradições que nos entregou a literatura empacotada e valorada por seus conteúdos, suas mensagens, o que o autor quis dizer, enfim, por uma série de critérios que resultam alheios à essência do literário. A seleção de obras literárias não pode passar pelos mesmos critérios da seleção de outro tipo de materiais de leitura. Não pode ser óbvia, nem pragmática, tampouco instrumental. A literatura – por ser arte – é opaca e misteriosa, cala e oculta, insinua e sugere. Sua matéria-prima é a linguagem e a condição humana. A literatura apela – ao ser do leitor – à sua sensibilidade, ao seu território emocional, ao seu inconsciente. Assim, os critérios estruturais, formais ou de conteúdo, não são suficientes para eleger um bom texto literário. Em literatura, forma e conteúdo são inseparáveis; sua materialidade é determinante da qualidade da obra. Louise Rosenblatt afirma claramente:

“Não podemos dissociar do efeito total do poema o significado das palavras – as imagens, conceitos e emoções que denotam os matizes de sentimentos e as associações que se agrupam em torno deles. É igualmente impossível separar – do efeito total – o som das palavras ou o ritmo do verso…O efeito na íntegra de um determinado soneto resulta do fato de que diferentes elementos atuam sobre nós simultaneamente, se reforçam e, quase poderíamos dizer, criam-se uns aos outros. De maneira semelhante, na música, podemos definir uma forma particular como a fuga, mas nunca podemos experimentar a forma abstrata da complexa textura de determinada obra musical”. ( p.71)

Nesse ponto, quero deter-me um pouco e insistir na ideia de que um dos critérios mais relevantes na hora de selecionar obras literárias para um programa de animação – e, inclusive de promoção – é a qualidade estética. E, como definir a qualidade estética de uma obra? Evidentemente não é fácil, nem há fórmulas às quais podemos recorrer. Mas há pistas, indícios e conhecimento dos recursos literários que podem contribuir com elementos concretos na hora de selecionar.

Há um conceito que escutei de um professor de literatura na universidade, que me foi revelador: a ideia de duração. Não é o tempo da obra, nem o tempo que demora um leitor para lê-la. É algo que se produz no leitor e que está relacionado com o efeito estético. É dessa maneira que um livro, uma história, um poema, um conto, uma personagem, habita o íntimo do leitor. Há algo ali que dura, que permanece, algo sobre que não se percebe na hora de analisar textos literários, talvez pelo pouco mensurável, mas que tem muito sentido ao se considerar a literatura como uma série de experiências possíveis, como afirma Rosenblatt, e não como um corpo de conhecimentos. “A literatura proporciona um viver através e não simplesmente um conhecer sobre” (p.65).

Essa relação da leitura com a vida dos leitores nos permite ver diferentes possibilidades para a mediação e, por conseguinte, para a seleção dos materiais. Queremos que as pessoas com as que trabalhamos como promotores ou animadores construam sentidos pessoais frente ao que leem, desenvolvam pensamento crítico frente à realidade através da leitura e da escrita; reflitam sobre si mesmos e sobre suas relações com o mundo; utilizem a leitura e a escrita para produzir informações. Se queremos atingir esses objetivos, a dimensão de nosso trabalho se amplia, e isto afeta também os critérios de seleção do material.

Sob essa perspectiva, já não é possível selecionar textos sem considerar os contextos. Tampouco é possível selecionar somente a partir de gostos pessoais e preferências. É necessário que o mediador se torne um conhecedor profundo dos materiais com que trabalha e se transforme em um leitor cada vez mais experiente, aguçando sua visão e sua capacidade de compreensão dos grupos com os quais se relaciona. Somos trabalhadores sociais e culturais e não recriadores. Aceitar esta condição nos leva a buscar as maneiras para criar vínculos profundos, estreitos e autênticos entre os leitores e os materiais de leitura; contribui para trabalhar tanto pela qualidade das seleções quanto para criar espaços que permitam aos leitores descobrir novas maneiras de se apropriar do que leem, novas maneiras de se enxergar e de se compreender por meio da palavra escrita, outras formas de se relacionar com o outro e consigo mesmo através da leitura e da escrita.

Para terminar, um exemplo de como ler para outros textos que são de seu interesse, e respondem às suas necessidades, se transforma em uma ação que, inclusive, pode chegar a ser considerada subversiva.

Alberto Manguel, em seu livro Uma história da leitura, observa que as leituras públicas que aconteciam nas fábricas de charuto em Cuba permitiram que muitos trabalhadores analfabetos tivessem acesso a textos pedagógicos, políticos, literários e se instaurou o que Manguel chama de instituição do leitor:

“Foi tal o sucesso daquelas leituras públicas que, ao cabo de pouquíssimo tempo, elas foram consideradas subversivas. Em maio de 1866, o governador de Cuba publicou o seguinte decreto:

1. Proíbe-se distrair os trabalhadores das fábricas de charuto, escritórios e lojas de todos os tipos com a leitura de livros e periódicos ou com discussões alheias ao trabalho que realizam. 2. A polícia exercerá vigilância constante para assegurar o cumprimento deste decreto e colocará à disposição de minha autoridade os donos de estabelecimentos ou representantes que desobedeçam a esta ordem de maneira que poderão ser julgados segundo a gravidade do caso”. (p.138)

Anos depois, esta prática é transportada por cubanos imigrantes, residentes nos Estados Unidos. Nas fábricas de cigarro de Key West, selecionava-se material de leitura visando a necessidade dos trabalhadores: “abarcavam-se desde livretos políticos e livros de história a novelas e coleções de poesia moderna e clássica. Os trabalhadores tinham seus livros preferidos: O conde de Montecristo, por exemplo, chegou a ser tão popular que um grupo de trabalhadores escreveu a Dumas, pouco antes de sua morte, em 1870, pedindo que ele permitisse dar o nome de sua personagem a um dos tipos de cigarro. O romancista francês aceitou.2Texto apresentado no 2º Encontro Nacional de Promotores de Leitura, organizado pela Comfenalco- Antioquia – Medelín, em outubro de 2008.

Tradução Thais Albieri

Referências Bibliográficas

BORGES, Jorge Luis. Obras completas. Buenos Aires: Emecé editores, 1974.

LAHIRE, Bernard. Sociología de la lectura. Barcelona: Gedisa editorial, 2004.

MANGUEL, Alberto. Uma história da leitura. São Paulo: Companhia das Letras: 1997.

ROSENBLAT, Louise M. La literatura como exploración. Cidade do México: Fondo de Cultural Económica, 2002.

Notas

  • 1
    Cito a definição tomada das Considerações Finais da pesquisa: Aplicación de La encuesta internacional de La lectura en Colombia, em que se concebe a promoção da leitura como um “trabalho de intervenção sociocultural que buscar estimular a reflexão, revalorização, transformação e construção de novos sentidos, ideários e práticas leitoras, para, assim, gerar mudanças nas pessoas, no que toca aos contextos e suas interações”.

    Outra visão da promoção da leitura que vai nesse mesmo sentido pode ser vista nos estudos do grupo A cor da letra, quando diz: “A ação cultural cria condições e oportunidades para que as pessoas desenvolvam sua capacidade de observar, refletir, duvidar, questionar e falar livremente a partir de seu próprio cotidiano. É um processo que provoca transformações, levando as pessoas a alterar a forma como se veem no mundo a seu redor, permitindo não se limitarem às soluções já elaboradas e aos comportamentos convencionais, e que comecem a perceber para além das circunstâncias imediatas”.
  • 2
    Texto apresentado no 2º Encontro Nacional de Promotores de Leitura, organizado pela Comfenalco- Antioquia – Medelín, em outubro de 2008.

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  • Beatriz Helena Robledo

    Nasceu na Colômbia. Especialista e pesquisadora nas áreas de literatura infantil e juvenil e leitura. Com mais de 25 anos de experiência na área, é autora de vários livros. Foi subdiretora de leitura e escrita do CERLALC, de 2006 a 2007 e subdiretora da Biblioteca Nacional da Colômbia, de 2008 a 2010. Atualmente é consultora e professora. Membro da Rede de Apoio Emília.

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