No novo livro publicado pelo Selo Emília & Solisluna, Cartografia dos encontros: Literatura, silêncio e mediação, Cecília Bajour, escritora, pesquisadora e crítica literária argentina, discute o poder da leitura como ato criativo e autônomo. “Neste livro, Cecilia Bajour nos convida a adentrar um espaço de escuta sensível e refletir sobre a importância da imaginação e da indeterminação dos significados na experiência leitora como uma possibilidade de (trans)formação de sujeitos”, destaca Dianne Melo, na apresentação.
Conversamos com Cecilia sobre o livro. Acompanhe a seguir:
Priscilla Brossi – O que propõe “Cartografias dos encontros. Literatura, silêncio e mediação”?
Cecília Bajour – Os textos são um convite a pensar sobre o papel da imaginação nas diversas situações de leitura, sobre o lugar da escuta e do silêncio nas conversas sobre a leitura literária e sobre os problemas ligados à relação entre ficção e realidade em uma época em que o politicamente correto tem tido consequências cada vez mais preocupantes no campo da literatura infantojuvenil e nas suas diversas mediações.
O livro traz três artigos publicados originalmente em Literatura, imaginación y silencio. Desafíos actuales en la mediación de lectura, que integra uma coleção editada pela Biblioteca Nacional do Peru, e acrescenta outros três que dialogam com os eixos conceituais ali propostos, abrindo outras perspectivas.
Embora todos os textos incluídos no livro pretendam contribuir para a reflexão sobre práticas de leitura e mediação, na última seção, denominada “Mediações”, o foco está em problematizar algumas tendências que se naturalizam na chamada “promoção da leitura”, convidando-nos a discutir discursos supostamente reflexivos sobre as consequências da leitura na vida das pessoas e a propor caminhos que aprofundem a valorização das leitoras e dos leitores como seres criativos e livres.
PB – De fato, o livro traz rica e profunda análise sobre o papel da imaginação, do silêncio e da ficção. Por que tais elementos são importantes na medição leitora?
CB – Em uma época cada vez mais complexa e desafiadora para aqueles que participam de tarefas relacionadas à mediação de leitura, a nutrição dos imaginários torna-se imprescindível em relação à abertura ao pensamento crítico e à criação de caminhos divergentes. O silêncio, nesse contexto, é pensado como uma peça central da engrenagem dos discursos artísticos, diferenciando-se do excessivamente dito ou mostrado.
Vejo o silêncio como uma maneira sutil e poderosa que certas obras de arte e certas mediações têm de confiar no poder da co-construção de significados por parte das leitoras e dos leitores. Nesse sentido, as ficções mais ricas são aquelas que propõem diversos caminhos de silêncio em relação ao dito e mostrado, tanto na palavra quanto na imagem. O conhecimento sobre os múltiplos caminhos de manifestação do não dito em diversas ficções pode colaborar para o fortalecimento dos modos de intervir em situações de leitura, oralidade e escrita.
PB – Diante de tantas distrações digitais, como você vê o papel dos livros (em seus diversos formatos) e da leitura literária hoje? E como fica a mediação de leitura nesse contexto?
CB – A transformação nos modos de atenção a partir do excesso de estímulos digitais nos leva a questionar o papel da demora, da pausa e das leituras prolongadas em diálogo com as mais fragmentadas. Acredito que as visões apocalípticas do tipo “todo modo de leitura do passado é melhor” não ajudam em nada. A atenção também é algo que se aprende e se ensina, principalmente relacionada ao desejo de conhecimento que os livros e outros objetos culturais do passado e do presente podem provocar quando são abordados com táticas renovadas e criativas.
Nesse sentido, é muito importante para os mediadores experimentar caminhos e formatos diversos que integrem de maneira rica os modos de leitura, incluindo a oralidade, o multimídia e também o impresso.